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sábado, 27 de junho de 2015

Caso Cristiano Araújo: Especialistas tentam explicar comportamento de quem espalha e procura imagens de pessoas mortas

Cantor Cristiano Araújo morreu em acidente de carroO vazamento de imagens chocantes de famosos mortos, como aconteceu esta semana com o cantor sertanejo Cristiano Araújo, não é novidade. Numa rápida busca na internet, conseguimos ver como ficaram a atriz Daniella Perez e a jovem Liana Friedenbach, brutalmente assassinadas em 1992 e 2003, respectivamente, ou ainda os integrantes do grupo Mamonas Assassinas (1996) e o candidato à presidência Eduardo Campos (2014), mortos em acidentes aéreos.
Os que repudiam a atitude dos profissionais que exibiram a autópsia do cantor quase se misturam ao grupo dos curiosos, já que muitos compartilharam as imagens nas redes sociais com mensagens de protesto, repetindo assim a atitude de quem as viralizou. Ao EXTRA, especialistas em comportamento tentaram traçar o perfil de quem tem esse tipo de comportamento.
— No meu entendimento é caráter de perversidade. Tem aí um prazer de lidar com a desgraça do outro — pontua o psicólogo Salomão Rodrigues Filho, membro da Associação Brasileira de Psicologia.
Para o psicólogo Antônio Carlos Amador Pereira, professor no curso de Psicologia da PUC de São Paulo, a curiosidade acerca da morte sempre existiu. A diferença é que o alcance a esse tipo de informação é ainda maior com a internet:
— Nunca foi incomum ter um corpo morto na rua e juntar um monte de gente para ficar olhando. Mas hoje tudo se coloca na internet. Você transa e expõe a relação sexual meio que sem medir a consequência. Ao mesmo tempo tem público para isso.
Exemplo bastante criticado sobre esse descontrole nas redes foram as selfies tiradas durante o velório de Campos, em agosto de 2014. Já não bastassem as imagens do acidente circulando com exaustão, muitos que compareceram à cerimônia de despedida do então candidato à presidência resolveram levar, como “lembrança”, uma foto próximo ao caixão, gerando verdadeiras batalhas épicas atrás do computador.
Para Antônio Carlos, a morte é uma questão mal trabalhada e “absolutamente negada” na nossa cultura, tornando-se assim um fator determinante para tal atitude.
— Quando acontece uma morte, principalmente de forma inesperada, e de alguém conhecido, mexe com as pessoas. A morte fica muito próxima a elas psicologicamente. Acredito que querer ver como é faz aflorar a ideia de que elas vão morrer um dia. Não estou falando que acontece com todo mundo, mas tem pessoas que precisam olhar aquilo — analisa o psicólogo: — Pra quem está envolvido emocionalmente é muito doloroso. Já essas pessoas que estão olhando na internet estão distantes. É um espetáculo de televisão, como se fosse cinema — continua.
Espetáculo esse que não vem de agora. Quem era criança quando o avião dos Mamonas caiu na Serra da Cantareira, em São Paulo, lembra bem da falta de sono após as imagens aéreas feitas na época do acidente e até das revistas e jornais mostrando o local da tragédia. O corpo da atriz Daniella Perez perfurado, jogado num matagal na zona oeste do Rio, também foi estampado em página colorida, aumentando o horror causado pelo assassino da jovem, Guilherme de Pádua, seu companheiro de cena na época.
Rosa Maria Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC SP, soube das imagens pelo sobrinho de 21 anos, que ligou chocado com o que viu. Ela também defende que a curiosidade mórbida sempre existiu.
— No virtual é que as pessoas expressam o que têm de pior e melhor. Nesse contexto, elas perdem um pouco a crítica, rebaixam a capacidade de raciocínio ou de reflexão a respeito daquilo que é adequado ou não em função daquele fascínio que o ambiente virtual pode exercer. A pessoa se sente não atingível — explica: — Outra questão é o gosto pelo mórbido, por coisas grotescas, violentas, aspectos que podem não ser conscientes para quem está ali.
Já a professora Ângela Cristina Pratini Seger, da Faculdade de Psicologia da PUC do Rio Grande do Sul, enxerga uma banalização da morte, principalmente para quem diariamente convive com ela.
— Para essas pessoas (profissionais que manejam corpos), o cotidiano de morte é comum, mas quando vivenciam o falecimento de um famoso, estão presentes naquele momento, é outra dimensão. Muitas vezes pensam em dar publicidade para o próprio trabalho ou serem vistas de outra forma — pondera: — E tem a questão da representação, de estar perto do famoso, participar de uma situação que vai dar visibilidade.
Na tarde desta sexta-feira, o juiz da 3ª Vara de Família e Sucessões de Goiânia, William Fabian, deferiu liminar determinando que o Google e o Facebook suspendessem, imediatamente, a veiculação de imagens e vídeos dos procedimentos de autópsia de Cristiano Araújo e da exposição dos corpos no local do acidente. Em nota, o órgão avisou que, em caso de descumprimento, os representantes legais das empresas serão autuados pelo crime de desobediência, além de incidir multa diária de R$ 10 mil.
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/brasil/caso-cristiano-araujo-especialistas-tentam-explicar-comportamento-de-quem-espalha-procura-imagens-de-pessoas-mortas-16573261.html#ixzz3eHRiFex8

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