sábado, 22 de dezembro de 2012

FECHAMENTO DA AZALEIA



Por Milton Marinho
Fui à audiência com os representantes do governo com os prefeitos da região sobre o fechamento das unidades de fabricação da Vulcabrás/Azaleia e achei a iniciativa do deputado Rosemberg Pinto, boa. Também pudera, o fechamento desses galpões significa muito desemprego e mais miséria, consequentemente mexe com o quadro político que se avizinha, isto é, mexe com o curral de votos desses mesmos representantes, e votos perdidos com os trabalhadores não são fáceis de recuperarem, não. 2014 vêm aí. Vós, tendes muito cuidado com o retorno.
No poder, os nobilíssimos deputados querem continuar dando as cartas.  Portanto, não fizeram mais que suas obrigações virem aqui dar satisfações aos executivos e demais representantes da região, satisfações meia-bocas, pois satisfeitos ficariam todos, se “Os Capas-Pretas”, como diz meu amigo André Dantas, – já tivessem vindo anunciar o presente de fim de ano para todos, o que seria a revogação das impiedosas medidas dos empresários do ramo calçadista em questão. A esperança agora é aguardar a resposta dos “Cachorros grandes”, expressão utilizada por Geraldo Simões quando de sua intervenção na audiência: Governador, presidenta e empresários que irão decidir em mais uma rodada de negociações com os ditos-cujos e famigerados empresários do setor. Pelo menos isso. Depois de muita conversa fiada e paparicos entre as “otoridades’.
Vale lembrar que nas rodadas anteriores, o governo numa queda de braço, com os mesmos grandões da Grendene, cedeu em incentivos, isenções e estruturas ao ponto de pagar ao empresário para ele explorar mão de obra barata em nossa região, isto não deu nem para molhar o bico. “os cabras”, estes, “gatos de hotel” quanto mais comem mais miam. Filosofia de vida sem nenhuma poesia. O progresso acompanhado da desgraça como legado. E agora, para onde vão estas pessoas, nossos trabalhadores?
O governo dirigindo o estado, que somos nós, continuou perdendo para os ditos cujos do sul separatistas, pois unidades foram fechadas e o povo trabalhador posto no olho da rua, sob alegação de sucessivos prejuízos em suas unidades.
Geraldo Simões, vulgo “Pedinha”, fez um discurso de esquerda da moléstia! Levantou a plateia incauta e desavisada. Veterano na arte da retórica coronelista regional, “Malaquias”, e conhecedor do caminho das pedras, o que lhe rendeu o capcioso apelido. Ele, o “Pedinha” de Itabuna, utilizando a máxima dos demagogos para conter a maioria irrequieta: Perguntou á sua orelha à esquerda: “O que é que o povo quer ouvir?”, e enfiou o verbo goela à dentro, e todos comeram o seu “agá”. Por fim, resta-nos a esperança do eterno retorno*. Muitas famílias morrerão de raiva e de fome até lá. A vinda de Jesus nas nuvens, talvez venha em boa hora Para os trabalhadores, pois nos últimos dias cada minuto sem a possibilidade de botar o pão na mesa, virou uma eternidade. Faz-se urgente uma virada de mesa contra os canalhas que castigam o povo. Quanto à esperança, ela existe sim, mesmo que sob a terrível ameaça da grande nuvem de gafanhotos do capitalismo, uma das sete pragas da bíblia que se abate sobre as poucas indústrias da região e sua população.
O *Eterno Retorno é um conceito desenvolvido pelo filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), considerado por ele próprio um dos seus pensamentos mais aterrorizadores. Foi durante um passeio em 1881 que Nietzsche refletiu sobre os sentidos das vivências em alternâncias que se “repetem”. Embora em várias de suas obras, encontramos pistas do que seria o Eterno Retorno, é na sua obra A Gaia Ciência (1882), um dos mais belos livros antes de Nietzsche sofrer das baixas de sua saúde que ele nos brinda com a ideia mais nítida do que seria esse conceito:
“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!“ Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?”
Segundo analistas, parece que o Eterno Retorno defende a tese de que polos se alternam nas vivências numa eterna repetição. Criação e destruição, alegria e tristeza, saúde e doença, bem e mal, belo e feio,… tudo vai e tudo retorna. Porém, esses polos não se opõem, mas são faces de uma mesma realidade, isto é, um complementa o outro, são contínuos de um jogo só. Alegria e tristeza são faces de uma única coisa experimentada com grau diferente.
A temporalidade não está presente no Eterno Retorno a realidade para Nietzsche não tem uma finalidade nem um objetivo a cumprir, e por isso as alternâncias de prazer e desprazer se repetem durante a vida. – O Eterno Retorno não se reporta a uma demarcação temporal cíclica e exata, mas às nuances de vivências que se complementam e dão o colorido da vida.
O devir não ocorre de um modo exatamente igual, mas são variações de sentidos já vivenciados, faces de uma mesma realidade. A alegria e a tristeza que senti não serão iguais no amanhã, mas voltarei a experimentar esses estados em suas diferentes variações.
A reunião com representantes do governo para esclarecer o fechamento da azaleia não deu em nada, a não ser em esperança, este bem que nos resta, apesar de alguns políticos quererem insistir em matá-la. Talvez um dia, novas fábricas serão abertas em nossa região e anos depois serão fechadas novamente talvez, estaremos aqui para presenciar tal evento, talvez não. Talvez na pele de nossos filhos e nossos netos, talvez ainda, bateremos cartão como funcionários de alguma delas, talvez, deixemos de nos ajoelhar aos pés do “deus mercado” vivendo um ciclo de prosperidade e paz, talvez.
Quem sobreviver verá.
Milton Marinho.

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