segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Blocos vendem vagas no circuito Barra-Ondina por até R$ 500 mil; MP abre investigação



Na última vez que o bloco Gula desfilou no Carnaval de Salvador com seu nome, em 2007, a banda Terra Samba, que estava no auge do sucesso, foi a atração principal. De lá pra cá, especialistas em Carnaval afirmam que o bloco só aluga vagas para artistas que querem desfilar no seu horário, um dos primeiros do Circuito Dodô (Barra-Ondina).
Virou um bloco de aluguel - como pelo menos outros cinco que deveriam desfilar no circuito, mas apenas negociam sua vaga na fila com grande nomes do Carnaval baiano.
Esse comércio de vagas, distribuídas oficialmente por critério de antiguidade, está na mira da prefeitura de Salvador e do Ministério Público. É um negócio cada vez mais lucrativo.
O bloco Camaleão, da banda Chiclete com Banana, por exemplo, desfila no horário do Gula na Barra desde 2008 pagando a cifra de R$ 500 mil por dia, segundo fonte ligada ao próprio bloco. 

Camaleão desfila na vaga do bloco Gula(esq); Aviões do Forró saiu no espaço do bloco Fissura (Fotos: Robson Mendes)
Além do Camaleão, já saíram nas vagas do Gula blocos de Claudia Leitte (2008, 2009 e 2010), Jammil (2010) e  Cheiro de Amor (2011 e 2013).
Um empresário que já comprou uma vaga do bloco Gula afirma que os detentores da  posição não fazem Carnaval há muito tempo. “Um dos donos da vaga é bancário em São Paulo e não faz Carnaval há anos”, conta. O cantor Bell Marques, sócio do bloco Camaleão, foi procurado para comentar o assunto, mas não foi localizado.
Já Reinaldo Cerqueira, que é sócio da banda Chiclete com Banana, defende o comércio das vagas. “Eu acho que o que tem que se entender é que o Carnaval da Bahia é feito pela iniciativa privada. Quando se coloca um bloco na rua, há um risco, e tem que se vender o bloco. Se a pessoa tem o direito adquirido da vaga, nada mais justo que ela faça negócio”, argumenta.
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Polêmica
No Carnaval deste ano, o comércio de posição na fila foi parar na Justiça e quase o bloco Largadinho, de Claudia Leitte, não desfila. Como seu bloco é novo, ela comprou o espaço na Barra do Broder por R$ 100 mil, mas o lugar já tinha sido vendido para a Timbalada. 
A promotora do Ministério Público estadual Rita Tourinho, que está analisando a questão, explica que, para camuflar a venda do espaço na fila, é comum que os blocos façam falsas parcerias. “Eles dizem que fazem parceria, mas há indícios de vendas das vagas, o que é ilegal e contra o regulamento do Conselho do Carnaval de Salvador. Eles camuflam isso na hora de colocar o bloco na rua. Até os abadás que são vendidos saem com os nomes dos dois blocos escritos”, explica a promotora.
O indício do negócio pode ser detectado na programação do Carnaval quando os blocos saem com dois nomes. Foi o caso dos blocos puxados, este ano, pelas bandas Aviões do Forró e Filhos de Jorge.
O empresário dos grupos, Vagner Miau, admite que alugou vagas do bloco Fissura para as duas bandas saírem na Barra. Apesar de não revelar o valor pago, Miau diz que o preço sobe para bandas novas.
“Como é de praxe, todo mundo que é mais antigo no circuito acaba negociando as vagas que possui. Não tem um valor, depende do artista. As bandas mais novas, como é o caso da Filhos de Jorge, precisam aparecer na mídia e acabam pagando mais”, conta.

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