Poucos dias antes de a Rio 2016 começar, uma denúncia feita pelo jornal inglês "The Guardian" alertou para a possibilidade de manipulação de resultados no boxe durante a competição. A Associação Internacional de Boxe Amador (Aiba) rechaçou a possibilidade através de Mauro Silva, membro da comissão de arbitragem da entidade e presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe). Nesta quarta-feira, no entanto, o ex-pugilista Acelino Popó, tetracampeão mundial, disse que as decisões dos juízes nos Jogos Olímpicos estão comprovando que os resultados são manipulados.
– Está havendo (manipulação de resultados). Você viu a reportagem antes da Olimpíada, de um árbitro falando que têm resultados tendenciosos, e isso está sendo comprovado aqui. Estamos vendo agora, ao vivo para o mundo todo, e nosso país está comprovando isso. Acontece muito. As pessoas que fazem isso não têm filho, não têm família, não sabem o que o país está passando, o que representa uma vitória. Isso tira o sonho de muitos lutadores. Vemos lutas boas, fáceis de marcar, não uma luta difícil que foi equilibrada, mas uma luta que você sabe quem ganhou, mas isso não acontece – disparou Popó, na zona mista do Pavilhão 6, no Riocentro, onde são realizadas as lutas.
Acelino Popó disse que resultados dos Jogos Olímpicos estão sendo manipulados (Foto: Raphael Marinho)
Um dos motivos da revolta do ex-lutador e comentarista do SporTV nos Jogos Olímpicos foi a luta de Robenilson de Jesus, que venceu o argelino Fahem Hammachi por decisão dividida, com os três juízes tendo pontuações diferentes (30-27, 29-28 e 28-29). Na visão de Popó, o brasileiro venceu claramente os três rounds. Ele ainda apontou a existência de favorecimento para alguns países, como Cazaquistão e Uzbequistão.
– Você viu uma luta dura que o Robenilson pegou e conseguiu superar. Mas a luta não é só ele contra o adversário. É ele contra o adversário e os árbitros. Tem que lutar contra eles. São arbitragens totalmente amadoras nos Jogos Olímpicos, o que pode mudar a vida do lutador. E não é só a luta dele, não. São várias as que estou comentando e têm resultados exorbitantes. Há vários países, como Cazaquistão e Uzbequistão, que têm arbitragens totalmente tendenciosas, puxam para o lado deles. Pode reparar. Se lutar os EUA ou qualquer país contra Cazaquistão e Uzbequistão, sempre tem um árbitro que dá para estes. A luta do Robenilson foi a mesma coisa. Ele ganhou os três rounds, e teve árbitro que deu resultado diferente. O cara (Hammachi) não ganhou nenhum round, não bateu. Não teve nenhum round que digo que foi equilibrado. Robenilson ganhou os três. Mesmo andando para trás, ele deu muito mais golpes, tinha volume. Ainda teve um knockdown, mas o juiz não abriu contagem – disse o ex-pugilista, expressando grande descontentamento.
Para evitar que resultados controversos ocorram, Popó aconselhou os brasileiros a vencerem seus rivais pela maior margem que puderem, sem deixar espaço para dúvidas. Por outro lado, cobrou de Luiz Boselli, brasileiro que é um dos executivos da Aiba, uma postura mais dura sobre os árbitros.
– Não pode deixar dúvidas. Se você já deixa dúvidas quando está batendo e ganhando, então tem que bater mais ainda. Agora tem 10-9 ou 10-8, quem bate mais ganha, mas às vezes mesmo quem bate mais não ganha na concepção desses árbitros. O Boselli é o diretor deles daqui e mandou mensagem para o (comentarista do SporTV) Daniel Fuchs criticando algumas arbitragens, então espero que seja mais duro com esse pessoal e passe a observar as lutas de forma diferente, da mesma forma que eu e o público. Até o público está indo contra alguns resultados – concluiu.
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