Há um detalhe que só se percebe ao acompanhar de perto o revezamento da Chama Olímpica, que chegou nesta sexta-feira, 20, a Vitória da Conquista: a Tocha funciona como um item mágico, 'celebrizador' das pessoas. Basta qualquer um, por menos conhecido que seja, empunhar a Tocha, para ganhar instantaneamente 200 metros de fama - a distância que cada condutor tem no revezamento.
Quando o ônibus que transporta os condutores chega ao local do revezamento, por exemplo, os populares 'voam' em cima do veículo. Se a pessoa não desce, quem está do lado de fora logo começa a tentar tirar qualquer foto de qualquer um que esteja empunhando uma tocha lá dentro. A cena, inclusive, já virou rotina até e protocolo entre os seguranças do Comitê Olímpico.
A fama, porém, dissipa-se rapidamente: basta o condutor passar a chama ao próximo que o foco da atenção muda bruscamente. Chega a ser cruel, na verdade, já que aquela pessoa, antes alvos de tantas câmeras, se torna logo um solitário.
Celebridade anônima
Um bom exemplo da euforia criada pelo Tour da Tocha veio de Itapetinga, segunda cidade a receber o revezamento do dia, que começou em Eunápolis. Coube ao corredor de rua 'Gerais' finalizar o percurso e levar a Chama até o palco de celebração. Gerais é conhecido em Itapetinga por estar sempre correndo e treina diariamente na BA-415. Foi com esse método que chegou a disputar algumas edições da São Silvestre e a Volta da Pampulha na década de 1990.
Foi assim, também, que ele acabou descoberto pelo Comitê Rio-2016. Após ver Gerais correndo tantas vezes na estrada durante as visitas ao município, os organizadores decidiram conhecer a sua história. Gerais é ex-alcoolatra, e ficou por muito tempo sem emprego por conta do vício. Decidiu começar a correr para combatê-lo, e hoje não só se orgulha do histórico como atleta como presta serviços à Prefeitura.
Ao subir no palco da celebração, Gerais foi ovacionado, com milhares de pessoas cantando o seu apelido e o aplaudindo. "Foi o maior prazer que Deus me deu nessa vida. Eu era uma pessoa que vivia abandonado no álcool e hoje, por conta do esporte, sou uma pessoa integrada à comunidade e a esse povo todo que me aplaudiu", comemorou. "Eu já representei muito Itapetinga em provas pelo país, e hoje estou sendo retribuído".
Só tem um detalhe: ninguém que a reportagem abordou na cidade sabia o nome verdadeiro de Gerais, nem sua idade. Até para uma emissora de rádio local A TARDE apelou para resolver esse mistério, mas só conseguiu mesmo com o Comitê Olímpico. Chama-se Florisvaldo de Souza, e tem 73 anos.
Atarde
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