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domingo, 9 de outubro de 2022

Queda de helicóptero matava Clériston Andrade, candidato ao governo, há 40 anos


As avenidas Paralela e Garibaldi têm mais coisas em comum que o fato de serem duas das mais importantes e movimentadas de Salvador. Elas possuem homenagens a dois políticos muito populares com funerais que pararam as duas principais capitais nordestinas, e que morreram em circunstâncias parecidas: acidentes aéreos em plena campanha eleitoral.

O caso mais recente, e mais vivo na memória dos brasileiros, é o do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, vítima da queda de um avião, em Santos, durante a corrida presidencial de 2014. Ele batiza um viaduto sobre a Paralela, na altura do Imbuí. Sua morte levou milhares de admiradores às ruas do Recife, em agosto daquele ano.

A outra perda trágica foi de Clériston Andrade, ocorrida em plena campanha ao Governo da Bahia, em 1982. A queda do helicóptero que levava o candidato e sua comitiva com mais políticos e assessores, completou 40 anos essa semana, e parou Salvador. O funeral levou mais de 150 mil pessoas às ruas, como mostra cobertura do Correio da Bahia sobre o fato que mudou os rumos da política baiana.

Os 14 metros de altura da escultura que ocupa o centro da Garibaldi, construída por Mario Cravo Júnior no ano seguinte, pode ser uma boa analogia à popularidade do político e pastor da Igreja Batista, que pintava como favorito à vitória nas urnas - o escolhido para o seu lugar, João Durval Carneiro, faturou o pleito contra Roberto Santos e se tornou governador em março do ano seguinte.

“A tragédia que enlutou a Bahia”, foi a manchete de 3 de outubro, em Edição Extra já que, como agora, não saía jornal novo aos domingos. Na capa, além da imagem dos destroços da aeronave e do resgate, chamadas para as reportagens internas que davam conta da chegada do corpo do político e das outras vítimas à capital, às 10h do mesmo dia. Além disso, o relato da comoção em Itapetinga, região onde o acidente aconteceu, e o luto tanto do padrinho político de Clériston, o então governador Antonio Carlos Magalhães, e do presidente João Figueiredo, último do período militar.

Foto: Arquivo CORREIO

A queda do helicóptero ocorreu na sexta-feira (1º) durante uma viagem de campanha entre as cidades de Itapetinga e Vitória da Conquista, no sudoeste. As perícias indicaram que a aeronave, em meio à neblina que cobria a região da Serra do Marçal, se chocou contra uma formação rochosa, matando todos os passageiros e tripulantes.

Ainda na capa da edição extra, convites do então prefeito, Renan Baleeiro - Clériston também fora prefeito entre 1970 e 75 - e do governador ACM, que listou as vítimas e detalhou o passo a passo do adeus.

“O Governador do Estado, interpretando o sentimento de pesar do povo baiano em virtude do trágico acidente que vitimou os Senhores Doutor Clériston Andrade, Deputados Federais Rogério Rego e Henrique Brito, Deputado Estadual Naomar Alcântara, Doutores Luiz Calmon de Bittencourt Pinto de Almeida, Adauto Pereira de Souza e Cesare Casali, Jornalista Fernando Morgado Presídio, Fernando Barcelos e João Batista Mendes, participa que, após trasladados, os corpos estarão em câmara ardente, para visitação pública, no Salão Nobre do Palácio da Aclamação, de onde sairá em cortejo fúnebre, para o Cemitério do Campo Santo, às 11 horas de amanhã, dia 4.”

O presidente Figueiredo, em telegrama a ACM, afirmou: “A melhor homenagem que poderemos prestar à memória de Clériston Andrade e dos demais correligionários falecidos será prosseguir, sem esmorecimento, em nossa campanha para aperfeiçoar e consolidar a democracia no Brasil”.

Ele também enviou mensagens pessoais à viúva, Cecy Andrade, e ao próprio governador. ACM, por sua vez, disse que perdeu um grande amigo, “e a Bahia um grande governador”. 

Entre os mais abalados com as perdas, agora já no Palácio de Ondina, onde a imprensa se concentrava para saber detalhes da tragédia, estava o então deputado Luís Eduardo Magalhães, que por pouco não entrou naquela aeronave. “Luís Eduardo pranteava o desaparecimento de tantos companheiros, especialmente do jornalista e candidato a deputado estadual Fernando Presídio, seu inseparável companheiro de militância política”, cita um texto. Outro que não embarcou de última hora foi o então presidente do Vitória, Paulo Magalhães, por falta de vagas.

Cidades em luto
Em Itapetinga, onde o acidente ocorreu, as ruas ainda ostentavam cartazes saudando a passagem de Clériston e sua comitiva, quando a má notícia chegou. “No semblante do povo a tristeza estava estampada, como se querendo traduzir o grande sentimento pela perda de tantos amigos. Era um sentimento de pungente saudade e de extrema dor”, cita uma reportagem. As notícias do desaparecimento da aeronave começaram a chegar por volta das 16h e, às 18h30 de sexta veio a confirmação do choque contra a Serra de Muquiba, que tem 400 metros de altura.

“A confirmação foi dada pelo vaqueiro José de Simplício, que viu quando o helicóptero bateu no pico da serra, seguido de um violento estrondo e do clarão de fogo”. José ainda chegou a ir até a aeronave, buscar sobreviventes.

“Tive medo e quase recuei. Depois me decidi e fui em frente, e quando cheguei lá ainda fui apagar as chamas”, contou, ponderando já ter encontrado todos mortos.

Em Salvador, o aeroporto lotou no desembarque das vítimas. “Cenas comoventes foram registradas quando da chegada dos corpos no Aeroporto Dois de Julho, durante o trajeto e depois no Palácio da Aclamação. Ali, filas imensas se formaram e milhares de baianos foram dar o seu último adeus a Clériston Andrade e aos componentes de sua comitiva”, diz o texto de apoio à manchete do dia 4, que trazia em letras garrafais: “Adeus, Clériston”. Na foto, ACM cumprimenta a viúva, Cecy, sobre o caixão do amigo. 

Os três tripulantes foram enterrados em São Paulo, de onde eram naturais. Exceto o então vice-prefeito de Itapetinga, Fernando Barcelos, que foi sepultado na própria cidade, as demais vítimas ficaram no Campo Santo, em covas próximas. No dia do sepultamento, às 10h30, o comércio de Salvador fechou as portas em respeito às vítimas e para que os funcionários pudessem acompanhar a despedida. Na edição do dia 5, que teve como manchete “Mais de 150 mil pessoas no adeus”, uma foto aérea mostra a região do Canela lotada, durante a passagem do cortejo fúnebre me direção à Federação. “A cidade parou para o sepultamento”, “o povo chorou nas ruas”, registrou o jornal no adeus ao candidato.

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