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quarta-feira, 3 de junho de 2020

Identificada mulher que pode ter sido enterrada pela família errada, ela foi vítima de coronavírus




A família de Arlete Santos dos Reis, 44, esperava na porta do Cemitério Campo Santo, na manhã desta terça-feira, para se despedir da doméstica, vítima do novo coronavírus. A despedida nunca aconteceu pois o corpo não foi encontrado no Hospital Espanhol e, provavelmente, foi enterrado no lugar de outra pessoa.
A suspeita é que o corpo de Arlete tenha sido liberado para outra família, que já teria realizado o enterro em um cemitério de Lauro de Freitas. Os familiares que levaram o corpo errado retornaram ao hospital e reconheceram que a parente, na verdade, ainda estava no local. De acordo com a sobrinha de Arlete, Natalice Nascimento, a família também poderia ter recebido o corpo errado se não tivesse exigido o reconhecimento antes da liberação.
 “Meu tio foi até o hospital com a funerária para fazer a liberação do corpo. O corpo estava em um saco e a etiqueta tinha o nome de Arlete. Ele exigiu reconhecer. O rapaz abriu o saco de longe porque ela morreu de coronavírus. Então, meu tio disse: ‘essa aqui não é a minha irmã’”, relatou a sobrinha da vítima. Como o corpo já havia sido enterrado, os familiares esperam o processo de exumação para saber se  tratava mesmo de Arlete. Segundo Natalice, a família já não tem mais certeza se a tia está mesmo morta.
Para realizar a exumação do corpo, é necessária uma permissão. Os familiares já prestam queixa para dar início ao processo para, assim, fazer o reconhecimento e comprovar se Arlete foi realmente enterrada por engano. De acordo com a nota do Hospital Espanhol, que é gerido pela Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde e presta serviços para a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), a família que enterrou Arlete por engano teria errado no reconhecimento do corpo.
Internação
“Existe um protocolo seguindo todas as normativas de segurança para que não ocorram incidentes como este. Neste caso específico, do reconhecimento do corpo da senhora Arlete, houve falhas humanas tanto na conferência da etiqueta fixada no saco, por parte do hospital, como no reconhecimento do corpo, de forma visual, por parte de um único familiar”, admitiu a unidade de saúde.
Ainda de acordo com a instituição, o protocolo de liberação de óbito prevê a conferência da identificação do óbito do paciente, “por meio da guia de sepultamento e das etiquetas que são fixadas, tanto no corpo do paciente, quanto na parte externa do saco envoltório que o guarda. As etiquetas são conferidas pelo serviço de segurança e também por um familiar do paciente que participa deste processo de reconhecimento do corpo”.
Devido ao coronavírus, o reconhecimento tem sido feito por apenas um familiar, usando os devidos Equipamentos de Proteção Individual para evitar contaminações. Entretanto, a sobrinha de Arlete aponta que o reconhecimento de Arlete não foi feito: “A outra família informou que eles não abriram o caixão e não fizeram o reconhecimento como devia ter ocorrido”.
Em nota, o Hospital Espanhol afirma que o fato está sendo apurado e medidas estão sendo tomadas para que uma ocorrência do tipo não se repita:
“O Hospital Espanhol se desculpa pelo ocorrido às famílias envolvidas e, dentro da gravidade reconhecida, compromete-se a assumir todas as demandas necessárias para regularizar a situação”.
Até ser internada, Arlete acreditava que estava apenas com um gripe forte. Os sintomas do coronavírus começaram a aparecer no começo da semana passada. Ela chegou a ir duas vezes na Unidade de Pronto Atendimento de Lauro de Freitas, mas voltou para casa com um diagnóstico de gripe. Na última sexta-feira, Arlete foi internada na UPA. Devido à gravidade do quadro, ela teve que ser transferida para o Hospital Espanhol, onde deu entrada no domingo. Ela era diabética.
“Na sexta, ela estava muito mal, com falta de ar, tosse e dor de cabeça. Minha tia só conseguiu uma vaga no Espanhol na manhã de domingo. Por volta das 22h30, nos informaram que ela foi entubada”, disse a sobrinha. Arlete morreu na manhã da segunda e, de acordo com Natalice, o hospital não permitiu que a família reconhecesse o corpo na ocasião.
 Moradora de Vida Nova, em Lauro de Freitas, Arlete era casada e possuía dois filhos e três netas. Quando não estava trabalhando como doméstica, ela gostava de ficar com a família e fazer churrasco. “Era uma pessoa magnífica. Ela sempre estava sorrindo, brincando e fazendo todo mundo dar risada. Ela gostava de fazer o churrasquinho dela e beber uma cervejinha”, disse a sobrinha.
Correio

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