As denúncias contra o psicólogo suspeito de praticar maus-tratos contra dezenas de gatos no Distrito Federal têm se multiplicado após o Metrópoles revelar o caso. Novos testemunhos e áudios obtidos pela reportagem indicam a crueldade cometida por Pablo Stuart Fernandes Carvalho (foto em destaque), 30 anos, contra os animais.
Até então, sabia-se apenas que Pablo havia adotado pelo menos 15 gatos, todos da cor cinza e de pelagem tigrada, e que os animais haviam desaparecido. Não se sabia que fim os bichinhos haviam tido.
Agora, áudios registrados por vizinhos do psicólogo, gravados há nove meses, mostram os gatos do suspeito agonizando por maus-tratos cometidos pelo tutor.
Ouça:
O fisioterapeuta Mateus Vieira, 25, é um dos vizinhos de Pablo que perceberam as agressões cometidas pelo psicólogo contra os felinos. Ele conta ao Metrópoles que notou algo errado em agosto de 2024.
“Em uma noite de agosto, minha noiva ouviu uns barulhos estranhos na área de serviço e me chamou. Eu cheguei perto e percebi umas batidas na parede e uns gritos de gatos”, comenta Mateus. “Eu era vizinho de porta desse cara, o que divide nossos apartamentos é apenas uma parede. Por isso, dava para ouvir muito bem”, explica.
Mateus afirma que, dias depois do primeiro episódio de maus-tratos, encontrou o corpo de um gato tigrado a 300 metros do condomínio. Posteriormente, viu outros dois felinos mortos próximo ao residencial e também no contêiner de lixo dos moradores.
Após um hiato de um mês, os barulhos que indicavam maus-tratos voltaram com força total. “Nós sempre ouvíamos ele dando banho nos bichinhos no fim do dia, entre 23h e 1h”, relata. “Quem sabe o mínimo sobre gatos sabe que não se deve dar banhos constantes nos felinos, que dirá nesse horário onde o frio é mais severo.”
“Enquanto ele dava banho, ele xingava os gatos de ‘desgraçados’, ‘filhos da puta’… Era possível ouvir os gatinhos arranhando o box do banheiro, gritando e tentando fugir daquilo.”
Incomodado com o notável sofrimento dos gatos, Mateus decidiu gravar áudios comprovando os maus-tratos e levar até a 14ª Delegacia de Polícia (Gama). A situação, porém, continuou.
Até que, em fevereiro último, Mateus começou a sentir um odor muito forte dentro do próprio apartamento. “Lavamos a casa várias vezes, e o mau cheiro continuava. Assim, descobrimos que o fedor vinha do apartamento desse cara, dada a proximidade do meu apê com o dele. Era cheiro de carniça mesmo.”
Fuga e sacos pretos
No mesmo mês, o porteiro do condomínio contou para Mateus que encontrou um saco preto muito pesado e fedido. Segundo o morador, o cheiro era o mesmo que tomava a casa dele. A suspeita dos condôminos era de que o saco estava cheio de cadáveres de gatos.
Mateus não vê o vizinho desde o último sábado (15/3). No domingo (16/3), o mesmo porteiro contou que viu duas mulheres saindo do apartamento de Pablo com pelo menos quatro sacos de lixo cheios. “Os sacos eram pesados e fedorentos, muito parecidos com o que vimos meses antes”, relata o vizinho.
Após a repercussão do caso, as mesmas duas mulheres voltaram à casa de Pablo e saíram com outros itens. Na quarta-feira (19/3), uma caminhonete vermelha encostou no condomínio e saiu levando itens como geladeira e sofá, os últimos móveis da residência do suspeito. Desde então, ele não foi mais visto.
Mateus classifica Pablo como um cara “quieto demais”. “Chegamos ao condomínio em maio de 2024, e ele já morava lá. Nós não conversávamos. Ele nunca pareceu agressivo, era até quieto demais. Raramente recebia visitas. Sempre pedia comida por delivery, parecia cozinhar muito pouco. Sempre saía de casa com grandes sacos de lixo pretos.”
Mais de 20 gatos
Para além do relato do vizinho de Pablo, protetoras que doaram gatos ao suspeito contam que, após o Metrópoles revelar o caso, pelo menos outras cinco cuidadoras surgiram para relatar que também entregaram bichinhos para o autor. Como, até o momento, sabia-se de 15 gatos adotados por ele, é possível que o número de gatos adotados, maltratados e mortos por Pablo passe de 20.
“Ao menos cinco protetoras nos procuraram nos últimos dias para contar a mesma história de que ele adotou gatos tigrados e cinza”, conta uma doadora, que solicita condição de anonimato.
As cuidadoras eram enganadas pela lábia de Pablo, que cumpria todos os requisitos para a adoção de cada gato. Em todos os casos, ele tinha de responder a um questionário de 16 perguntas informando dados pessoais e profissionais e dizendo os motivos para querer adotar.
“Além disso, pedimos vídeos e fotos da residência e fazemos acompanhamento pós adoção. Ele era muito convincente em todas as questões”, explica a protetora.
Veja imagens de alguns dos gatos adotados por ele:
16 indiciamentos
O delegado-chefe da DRCA, Jônatas Silva, indiciou Pablo pela morte de 16 gatos. Agora, ele deve responder pelo crime de maus-tratos contra cada felino individualmente.
O delegado também já pediu a prisão preventiva do suspeito. Ainda não há manifestação do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) quanto ao pedido.
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