Comprar um imóvel para alugar no Brasil rende mais do que investir o mesmo dinheiro em uma aplicação de renda fixa básica, desde novembro de 2019. Naquele mês o retorno de quem tem um imóvel e aluga ficou maior – mesmo que ainda milimetricamente – do que a remuneração do CDI, considerado o rendimento mensal de cada um deles.
Mas agora, o hiato entre os dois tipos de investimento aumentou — e muito. Em setembro de 2020, o ganho do aluguel era 2,5 vezes maior do que o da aplicação em renda fixa.
O CDI é a taxa de juros que serve de piso para os bancos e que anda colada à taxa Selic. As duas são a referência para os rendimentos de toda a classe de investimentos da renda fixa.
A rentabilidade do aluguel, estimada pelo FipeZap, é a conta de quanto equivale o preço do aluguel sobre o valor total do imóvel, consideradas as médias do mercado. Na prática, é o rendimento mensal do proprietário em relação a quanto ele investiu na compra daquela casa ou apartamento.
O levantamento foi feito pela corretora Necton Investimentos e comparou a rentabilidade mensal do aluguel e do CDI desde 2008.
Em novembro de 2019, quando a virada aconteceu, o rendimento do CDI tinha caído a 0,38% ao mês, enquanto a rentabilidade do aluguel estava em 0,39%.
Isso significa que alguém que tivesse um imóvel de R$ 500.000 poderia ganhar R$ 1.967 de aluguel, enquanto os mesmos R$ 500 mil aplicados na Selic ou no CDI ganhariam R$ 1.900.
Atualmente, o ganho do aluguel está em 0,40%, ou R$ 1.976 para a casa de R$ 500 mil. O CDI, porém, derreteu para apenas 0,16%: significa uma remuneração mensal de apenas R$ 800 pelo mesmo valor.
Em um passado não muito distante, o ganho da renda fixa chegou a ser mais que o triplo do mercado imobiliário.
É o caso de agosto de 2016, quando a taxa Selic tinha chegado a impressionantes 14,25% ao ano. A rentabilidade do aluguel, que mudou pouco de lá para cá, estava em 0,37%: R$ 1.842 de aluguel médio pelo imóvel de R$ 500 mil.
Já a remuneração mensal do CDI estava em 1,2%, o que significa que o mesmo dinheiro aplicado no banco renderia R$ 6.050 no mês.
Atualmente, a taxa Selic é de 2% ao ano, o menor nível de sua história. Em um passado ainda mais distante, no início dos anos 2000, ela chegou a ser superior a 20%.
Vantagem vai durar?
De que é uma hora única para comprar imóveis poucos discordam, seja para investir, seja para morar. Os valores seguem relativamente baixos, ainda não recuperados totalmente desde a estagnação da crise de 2015 e 2016, e os juros minúsculos deixam os financiamentos excepcionalmente baratos.
Não à toa, o mercado imobiliário é um dos setores da economia que começaram a reagir mais rápido após o choque inicial da pandemia.
A dúvida entre os especialistas é se a situação de aluguel rendendo mais do que a renda fixa veio para ficar ou se está só de passagem, na carona da pandemia, que fez com que os juros caíssem especialmente mais.
“Tudo está relacionado ao juros baixos, e o que pode reverter esses juros é como a inflação vai se comportar nos próximos meses e no ano que vem”, disse Sergio Castelani, economista do DataZAP, braço de dados do Zap+, grupo dono dos sites de anúncios imobiliários Zap e Viva Real.
“Se a inflação sobe, o BC reage subindo a Selic, e o que vai ser determinante para a inflação é o cenário fiscal. Os gastos subiram muito na pandemia, o que traz pressão sobre a inflação. Tudo vai depender do que o governo vai fazer para segurar os gastos.”
O economista-chefe da Necton, André Perfeito, pontua a possibilidade de uma reversão pelo caminho inverso: não o do aumento de juros, mas o da queda na rentabilidade do aluguel.
“Mesmo que o governo faça um ajuste fiscal e os juros continuem baixos, esses mesmos juros baixos podem levar a uma alta no preço dos imóveis, o que pode fazer a taxa do aluguel ficar menor”, disse.
Parece um contrassenso a princípio, mas isso acontece, porque juros muito baixos são uma injeção de estímulo à compra de imóveis, o que tende a aumentar os preços de venda das unidades residenciais. Se os aluguéis não sobem na mesma proporção, o proprietário vê a sua renda mensal ficando menor em relação ao valor do bem que possui.
Em outras palavras, é como se o imóvel que vale R$ 500 mil hoje subisse para R$ 550 mil, mas continuasse valendo os mesmos R$ 1.970 de aluguel. Com isso, a rentabilidade mensal dele fica proporcionalmente menor, mesmo com o mesmo valor de aluguel.
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