A Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal, revelou um esquema criminoso de corrupção, lavagem de dinheiro e desvios de recursos públicos que se estendia por todo o Brasil. Durante buscas feitas nas casas e empresas dos suspeitos, os investigadores localizaram tabelas de propina, que, organizadas de forma sistemática e dissimulada, viabilizavam o funcionamento contínuo do mecanismo que envolvia empresários, servidores públicos e políticos.
As investigações revelaram, em detalhes, como esses pagamentos ilícitos eram realizados e controlados, assim como os beneficiários e a dimensão do esquema.
As mesadas, definidas como pagamentos regulares, eram fundamentais para garantir o favorecimento contínuo de empresas no processo de licitação pública.
Esses pagamentos, que seguiam uma lógica financeira minuciosa, eram feitos para assegurar que agentes públicos se mantivessem leais ao grupo criminoso e facilitassem o direcionamento de contratos fraudulentos. O valor das mesadas variava conforme a posição do beneficiário dentro da estrutura de corrupção.
Características das mesadas
Valores fixos e regulares: os beneficiários recebiam quantias mensais fixas, muitas vezes com valores que variavam conforme o grau de influência ou a função do destinatário. A mesada de R$ 6 mil mensal ao policial federal Rogério Magno Almeida Medeiros é um exemplo.
Planilhas e registros: as mesadas eram registradas em planilhas informais de contabilidade, que detalhavam os valores pagos, as datas de pagamento e os beneficiários. Esses documentos, que usavam siglas e códigos, ajudavam a ocultar os verdadeiros destinatários dos recursos. Por exemplo, a sigla “MAG” era usada para referir-se a Rogério Magno, enquanto “LD” correspondia a Lucas Moreira Martins Dias.
Pagamentos em dinheiro e transferências: uma das táticas mais utilizadas para dissimular a origem dos recursos era a realização de pagamentos tanto em dinheiro vivo quanto via transferências bancárias para contas de terceiros ou empresas de fachada. O uso de dinheiro em espécie dificultava a rastreabilidade das transações.
Beneficiários
A rede de beneficiários das mesadas era extensa e envolvia diversos agentes públicos, políticos e servidores. Entre os mais destacados, estavam:
Rogério Magno Almeida Medeiros: recebia R$ 6 mil mensais, conforme registrado nas planilhas, e estava diretamente envolvido no processo de direcionamento de contratos para empresas do grupo criminoso.
Lucas Moreira Martins Dias: um dos beneficiários mais notáveis, com valores de propina totalizando cerca de R$ 271 mil. Ele estava intimamente ligado ao município de Vitória da Conquista e aos contratos relacionados à empresa Larclean Saúde Ambiental.
Lara Betânia Lélis Oliveira: recebia pagamentos de R$ 10 mil a R$ 15 mil em datas diversas, com registros em outubro e novembro de 2022. Esse padrão de pagamentos variáveis indicava um ajuste flexível dentro do esquema.
Carlos André de Brito Coelho: acumulava valores significativamente mais altos, com um total de R$ 1,7 milhão, conforme registrado nas tabelas.
Tabelas de Propina
As tabelas de propina ajudavam no controle financeiro do esquema criminoso. Elas serviam como um registro detalhado das transações ilícitas, e ajudavam a garantir que todos os envolvidos recebessem sua parte.
As planilhas indicavam claramente os valores de propina e as datas de pagamento, muitos dos quais coincidem com a liberação de repasses contratuais. Isso sugere que os pagamentos de propina eram feitos pouco tempo depois que os contratos fraudulentos eram assinados ou os pagamentos eram liberados pelas prefeituras e outros órgãos públicos.
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