CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DO BANCO DE DADOS FOLHA
DO BANCO DE DADOS FOLHA
Tudo começou no dia 20 de abril de 1993.
Um relato chegou à Redação do "Notícias Populares", dos mais inusitados que a reportagem já tinha escutado: um pênis encontrava-se pendurado havia uma semana num fio de alta tensão.
O jornal apurou a história, e ela era fidedigna, afinal havia mesmo um membro sexual suspenso na estrada de Itapecerica, no bairro do Capão Redondo, na zonal sul de São Paulo.
J.F. Diorio - 20.abr.1993/Folhapress |
Pênis pendurado em fio da rede de energia elétrica na estrada de Itapecerica, no bairro do Capão Redondo, em 1993 |
O "NP", então, debruçou-se sobre o caso, já que pipocavam versões para o que foi chamado de "pênis voador".
Logo no primeiro dia, a principal história contada por moradores da região dava conta de que o órgão pertencia a um rapaz que tentara estuprar uma menina de 13 anos, fora descoberto pelo pai da criança e morto por este.
Outros, porém, acreditavam que, devido ao tamanho, o "pênis voador" deveria ser de algum animal.
De toda a forma, contando até com informações do 47º DP (Capão Redondo), o caso foi apresentado na quarta-feira, 21 de abril de 1993, como "Coisa louca" e com o título "Procura-se um dono pra este pênis!".
No dia seguinte, algo mais intrigante manteve o caso nas páginas do jornal: durante a madrugada o "pênis voador" desaparecera.
O caso foi relatado por dois PMs, que, após lerem o "Notícias Populares", foram até o local, na altura do número 7.100 da estrada de Itapecerica, e não encontraram nada.
Rogério Albuquerque - 24.abr.1993/Folhapress |
Policiais realizam busca após suspeita de que dono do "pênis voador" teria sido morto e enterrado em matagal |
Após o delegado do 47º DP confirmar que ninguém do departamento retirara o objeto do fio e a reportagem do "NP" não ter encontrado em hospitais, necrotérios e delegacias da cidade um homem sem sexo, o caso agora tinha duas perguntas insolúveis: 1) de quem era o pênis voador?; 2) quem levou o "pênis voador"?.
Começava ali uma saga que se estenderia por mais cinco dias, abriria novas perguntas e mobilizaria reportagem, polícia e moradores.
Um leitor do "NP", que ligou para o jornal e, sem se identificar, afirmou saber de quem era o "objeto", motivou as primeiras ações.
De acordo com ele, Gérson, que havia estuprado várias garotas da região, era o dono, mas fora morto e estava enterrado em um matagal no Jardim Piracema.
Em "PM caça o dono do pênis voador", o jornal relatou que a polícia investigou cinco covas da região e não encontrou nenhum cadáver e tampouco a delegacia tinha registro de estupros nos últimos dias.
O fato mais revelador desse dia estava sob o título "Órgão já foi de um homem". Isso porque o cientista Gameiro de Carvalho, então professor de reprodução animal da Faculdade de Veterinária da USP, afirmara ao "NP", após ter olhado as fotos do órgão, que o "pênis voador" não era de um animal, e sim de humano.
No dia 24, uma nova versão para a história do estuprador foi parar nas páginas do "NP". De acordo com A.S., um morador do Capão Redondo que também não quis se identificar, o suposto criminoso tratava-se de um rapaz negro, de 1,78 m, que fora morto por ter molestado uma menina de sete anos e outra de 13.
Conforme o relato, o vingador seria um moço que estava servindo o Exército e, com uma turma de mais de dez colegas, capou o suposto estuprador. A vítima, após perder muito sangue, chegara morta ao hospital –reportagem do "NP" confirmou que o hospital Novo Campo Limpo não tinha registro do caso. E o medo de represália da gangue mantinha a história em segredo.
Nesse dia, outro destaque foi para o fato de que o "NP" confirmou que o dono do "pênis voador" era mesmo um bem-dotado. De acordo com um médico do departamento de patologia clínica da Associação Paulista de Medicina, "diferentemente do corpo humano, que incha após a morte por causa de substâncias que fazem o organismo fermentar, um órgão decepado não cresce, porque não tem essas substâncias".
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