por José Lourenço
Há 34 anos trabalho como profissional médico do Hospital São José, em Ilhéus. E posso assegurar: nunca passamos – nós médicos e profissionais em geral – por uma situação tão caótica como a que se encontra agora esta instituição. Sabemos que se trata de uma instituição filantrópica onde o único objetivo é tratar de enfermos, em especial, os mais carentes. Mas a falta de medicamentos e materiais hospitalares tem sido comum em nosso cotidiano.
Atualmente o que podemos notar nos corredores e nos departamentos do hospital são funcionários totalmente desmotivados no exercício de suas funções, partindo do pressuposto de que, quem trabalha, obviamente quer receber o que lhe é de direito. E é triste ver que os compromissos que o cidadão tem que saldar ao final de cada mês não acontecem pelo fato de não verem seus vencimentos creditados.
A aí?
Atualmente a entidade transformou as suas missões filantrópicas em interesses lucrativos. O que se vê são espaços sendo terceirizados. A UTI está fechada desde janeiro, por falta de pagamento dos médicos, plantonistas e fisioterapeutas, mesmo o hospital recebendo o devido repasse da secretaria municipal de Saúde.
É também importante enfatizar que o banco de sangue está sendo sucateado e por detrás disso há uma suspeita de que o seu possível destino também seja a terceirização.
As internações são temerárias.
Você chega ao hospital e só vê leitos vazios. Enquanto isso o povo passa por um descaso sem fim.
Pergunto: quem é o culpado?
Até quando vamos aguentar esta situação?
Será que vamos esperar as portas do hospital fecharem?
Já não basta a precária situação em que se encontra o município na área de saúde?
A falta de capacidade administrativa é lógica e vísivel. Cadê o provedor? Cadê os diretores e os irmãos desta casa?
Para que uma instituição filantrópica ande de fato é necessário que os administradores não procurem ser beneficiados direta ou indiretamente, através de formas lucrativas e de acordo com os seus próprios interesses.
Tem que haver, de fato, uma intervenção do Ministério Público na Santa Casa de Misericórdia de Ilhéus, antes que seja tarde demais.
Em tempo: da minha parte não há o mínimo de interesse em qualquer tipo de candidatura. A minha defesa é pela retomada do verdadeiro compromisso daquela instituição.
Só isso.
O autor é médico em Ilhéus
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Artigo publicado, originalmente, no Jornal Bahia Online.
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