A concentração de arsênio, cádmio e chumbo encontrada em amostras de águas e espécies marinhas do litoral Norte do Espírito Santo até o Sul da Bahia ultrapassa os níveis toleráveis. Algumas espécies apresentaram contaminação 140 vezes maior do que a permitida pela legislação ambiental brasileira. O professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Adalto Bianchini, apresentou laudo em recente audiência pública da comissão externa da Câmara de Deputados que trata dos desdobramentos do rompimento de barragem da Samarco na região de Mariana (MG).
O material foi coletado em expedição de dez dias coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no início deste ano. “Alguns desses metais quando presentes em excesso podem causar câncer em vertebrados marinhos”, alerta Bianchini, especialista em toxicologia e chefe da Rede de Pesquisas Coral Vivo.
Laudo da Rede de Pesquisas Coral Vivo
O pesquisador Adalto Bianchini explica que foi verificado nas análises laboratoriais o impacto em toda a cadeia alimentar. Em camarão, foram encontrados nas amostras até 88 microgramas de arsênio por quilo (µg/kg) e 2,7 de cádmio e chumbo, mas o nível máximo permitido na legislação ambiental brasileira seria de 1 µg/kg e 0,5, respectivamente. No peixe roncador os números foram ainda mais elevados: 140 de arsênio, 0,6 de cádmio e 1,7 de chumbo, enquanto que o permitido seria até 1 micrograma de arsênio por quilo, 0,005 de cádmio e 0,3 de chumbo.
Já nas amostras de água do mar coletadas durante a expedição do ICMBio, o laboratório do professor Adalto Bianchini identificou o seguinte: de chumbo total a medição mais alta foi de 96 microgramas por litro, enquanto o limite na legislação é 1; de cobre dissolvido a medição mais alta foi de 47, e o limite máximo permitido é 5; de cádmio, 11,8 microgramas por litro, e o limite máximo é 5.
“Com esses dados temos o retrato de um momento. Será necessário verificar se a contaminação na água e nas espécies é um episódio isolado ou não. Continuaremos apoiando o monitoramento dos órgãos ambientais na tomada de decisão”, informa Bianchini.
Vida marinha sofre com efeitos dos metais
Por determinação da Justiça Federal, permanece proibida a pesca na região costeira do Norte do Espírito Santo até o Sul da Bahia. “Essa lama enriquecida por metais pode gerar estresse oxidativo em corais, peixes e outros organismos”, avalia o professor Adalto Bianchini. Ele é um dos autores também de estudo publicado em 2015 pela revista científica “Aquatic Toxicology”, que apresenta uma relação da formação de tumores em tartarugas marinhas após acumulação de concentrações elevadas de ferro, chumbo e cobre no sangue.
“Já se tem evidências científicas que concentrações elevadas de metais podem causar efeitos na biota marinha. Tudo depende do nível de metais que está atingindo o ambiente”, explica Adalto, que realiza pesquisas na área de adaptações fisiológicas e efeitos fisiológicos de poluentes em animais aquáticos.
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