O especialista, alvo de inquérito policial, foi indiciado por violação sexual mediante fraude, após ser acusado por pelo menos duas mulheres de tê-las tocado de forma imprópria no momento em que estavam deitadas na maca de atendimento.
Segundo o relato da vítima, o médico pediu que ela deitasse, a examinou e colheu material para o exame preventivo. Em seguida, o ginecologista perguntou se ela sentia dores quando mantinha relações sexuais, o que foi prontamente negado pela paciente. No entanto, Kurike desconsiderou a resposta, afirmando que a paciente sentia dores “porque não era estimulada”.
Massagem no clitóris
A vítima contou à polícia que após a declaração, o ginecologista passou o dedo em seu clitóris e passou a massageá-lo, fazendo movimentos circulares. Logo em seguida, o médico perguntou se a paciente “estava gostando”. A mulher contou ter ficado em choque e sem reação. O médico prosseguiu falando como a mulher deveria manter relações sexuais e passou a acariciar as pernas da paciente.
Acuada, a vítima ainda ouviu do profissional que ela “tinha um sorriso muito lindo” e sentiu o médico acariciando seus cabelos. A paciente se vestiu e disse que ia embora, mas Kurike afirmou que ela iria apenas se “desse um abraço” nele, o que foi negado pela paciente. Após muita insistência, a mulher acabou abraçando o médio para conseguir deixar o consultório. Os relatos da vítima integram o processo que apura os crimes cometidos pelo profissional.
Outra vítima que denunciou os abusos relatou que procurou o hospital para agendar uma consulta ginecológica e teve horário marcado com Kurike, que ela nunca havia se consultado. Na hora do atendimento, a paciente informou que sentia dores na cicatriz deixada pela cesariana, além de cólicas e forte fluxo menstrual. O médico, então, pediu que a mulher respondesse algumas perguntas, que causaram estranheza a ela: o profissional queria saber quantos parceiros sexuais a vítima havia tido na vida, se costumava sentir dores durante a relação sexual e se tinha dificuldades de chegar ao orgasmo. Logo após as perguntas, o ginecologista pediu que a mulher tirasse a roupa e vestisse um avental.
Após fazer o exame nas mamas e a coleta do exame preventivo, tudo corria dentro da normalidade até que o médico, segundo a vítima, tocar em seu clitóris e feito movimentos circulares. Em seguida, Kurike teria dito que aquele ponto “é o local onde as mulheres sentem prazer”.
Em choque, a vítima não esboçou reação. Insistente, o médico disse que a ajudaria a parar se sentir as dores e passou a espetar agulhas pelo corpo da mulher, que eram semelhantes às de acupuntura. Assustada, a paciente se levantou, foi ao banheiro e trocou de roupa.
Orgasmo
Quando a mulher se preparava para deixar o consultório, o médico ainda afirmou que caso ela tivesse “dificuldades para chegar ao orgasmo, ele ajudaria”. O advogado de defesa de uma das vítimas afirmou que a semelhança nos depoimentos servem com prova cabal dos crimes cometidos pelo médico.
“Nos crimes contra a dignidade sexual, a palavra da vítima possui especial relevância, visto que na maioria das vezes os fatos criminosos são praticados sem a presença de testemunhas. Por isso, é importante que as pessoas não tenham medo de procurar as autoridades em situações como essas”, afirmou Bruno Félix, advogado de uma das vítimas.
Procurado pela coluna, o Conselho Regional de Medicina no DF (CRM-DF) informou que o médico já teve sua conduta apurada por meio de processo ético profissional. “A apuração resultou na aplicação de penalidade de suspensão de 30 dias (conforme previsto no artigo 22, alínea “D”, da Lei n° 3268/57), por infração aos artigos 38 e 40 do Código de Ética Médica, em fevereiro do ano passado. Demais informações correm em sigilo processual”, destacou o CRM.
O outro lado
A coluna localizou o contato do médico e conversou com o advogado Eduardo Teixeira, que trabalha na defesa de Kurike. Segundo o defensor, o inquérito policial se encontra em segredo de justiça. “Já foram apresentados nos autos da investigação todos os elementos informativos aptos a demonstrar a falsidade da acusação”, resumiu o advogado. O caso é investigado pela 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro).
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